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Canabidiol e insônia: efeitos positivos em um caso real

Embora os dados sobre os efeitos do canabidiol ou CBD no sono sejam limitados, resultados de estudos e ensaios clínicos mostram um potencial papel terapêutico nesse caminho. É o que indica, por exemplo, o artigo “Efeitos dos canabinoides sobre o sono e seu potencial terapêutico para distúrbios do sono”, publicado em fevereiro de 2021. Nesta entrevista, a colunista convidada do ExCanMed, a jornalista Maria Carolina Cristianini, traz o relato do paciente Thiago Milani, que tem indicação de uso de Cannabis para controle e tratamento de insônia Inicial.

O interesse por tratar distúrbios do sono (como insônia, síndrome das pernas inquietas e até narcolepsia) com canabinoides tem crescido nos últimos tempos. Dos mais de cem canabinoides já identificados, o delta-tetra-hidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) foram os mais amplamente estudados. A insônia, especificamente, é um problema prevalente na população com várias consequências à saúde reconhecidas. As opções terapêuticas são limitadas e existem potenciais efeitos prejudiciais à saúde dos agentes farmacológicos disponíveis. Esses fatores junto ao efeito ansiolítico dos canabinoides os têm levado, historicamente, a serem utilizados como auxiliares para dormir.

Embora os dados sobre os efeitos do canabidiol ou CBD no sono sejam limitados, resultados de estudos e ensaios clínicos mostram um potencial papel terapêutico nesse caminho. É o que indica, por exemplo, o artigo “Efeitos dos canabinoides sobre o sono e seu potencial terapêutico para distúrbios do sono”, publicado em fevereiro de 2021. Este artigo menciona, por exemplo, que estudos em ratos injetados com doses crescentes de CBD mostraram um aumento no percentual total de sono, com diminuição na latência do sono REM (movimento rápido dos olhos) em doses mais baixas e aumento na latência do sono REM em doses mais altas.

Até o momento, entretanto, segundo o artigo acima mencionado, faltam estudos em humanos que corroborem esses achados – um ensaio controlado mostrou aumento da sonolência com base na avaliação subjetiva em indivíduos que usaram cannabis dominante em CBD, mas não está claro se isso foi devido à pequena quantidade de THC nela. Apesar da necessidade substancial de estudos rigorosos, em grande escala e multicêntricos para avaliar a dose, eficácia e segurança dos diversos tipos de canabinoides nos distúrbios do sono, é possível saber mais sobre os resultados desse tipo de tratamento por meio de casos de pacientes que testemunham a eficácia na prática.

Um exemplo disso é Thiago Sampaio Milani, diretor de projetos na Comunitas. Vindo de um histórico de anos de ansiedade, ele começou a sofrer com insônia inicial (Dificuldade em iniciar o sono) que se agravou com o famoso Jet-leg, o desafio de adaptação às diferenças de fuso horário durante viagens. Foi então que, sob recomendação médica, passou a usar um indutor para o sono.

Eu sempre dormi bem, mas também sempre fui uma pessoa muito ansiosa. Quando eu era novo, tive síndrome do pânico, então eu tomo remédio para ansiedade desde pequenininho. Algum tempo atrás, eu e minha esposa fizemos algumas viagens para fora do Brasil, e eu comecei a ter dificuldade de dormir por causa do fuso horário. Com isso, passei a tomar um indutor de sono para dormir mais facilmente. Resumindo, viciei nele, tomando todas as noites. Aquilo me fazia dormir melhor e eu acordava melhor. Só que começou a me fazer mal, a dar problemas na memória. Eu queria parar de tomar e não conseguia. Se ficava sem, tinha muita dificuldade para dormir, passava três horas enrolando na cama”, conta Thiago.

Em busca de diminuir o medicamento por conta dos efeitos colaterais, mas manter a qualidade do sono, Thiago buscou ajuda médica novamente e foi apresentado à possibilidade de iniciar um tratamento com CDB isolado, com o objetivo de ver melhora tanto na insônia quanto na ansiedade. “Fui em busca disso há cerca de um ano e comecei a tomar canabidiol, CBD isolado, sem THC. A partir daí, consegui diminuir o indutor. A dosagem do CDB foi aumentando aos poucos. Agora, faz cerca de quatro a cinco meses que estou sem o outro medicamento. Tomo o canabidiol à noite e durmo muito bem, além de acordar com mais energia. Também tenho pernas inquietas e, com o canabidiol, quase zerei isso também. Conforme comecei o tratamento, ainda passei a ficar bem menos ansioso”, relata ele.

Para Thiago, o efeito positivo está sendo claramente sentido tanto para tratar a insônia inicial quanto para melhorar a ansiedade de tantos anos. “Sigo tomando outra medicação para ansiedade, mas percebi que melhorou ainda mais com o canabidiol. Agora, estou testando algo novo: dividir a dosagem total que me foi receitada de CDB isolado, tomando a maior parcela à noite e o restante pela manhã, como uma opção para diminuir o estresse do trabalho no dia a dia. Eu viajo muito, pego muito avião, e tem me ajudado bastante, inclusive nas apresentações e reuniões de trabalho mais tensas. Notei que eu chego mais tranquilo, por exemplo, a reuniões em que sei que podem acontecer problemas”, explica.

A expectativa agora é de que Thiago consiga dar um novo passo: parar totalmente com a medicação para ansiedade assim como deixou o uso do indutor, permanecendo somente com o CBD isolado. Até o momento, ele não relata efeitos colaterais além da sonolência com a dose noturna, que é esperada e desejada.

O uso “off-label” de medicamentos, como os canabinoides para transtornos do sono, refere-se à prática clínica de prescrever terapias fora das indicações aprovadas, uma estratégia comum que impulsiona a descoberta científica e a pesquisa clínica, sempre sob rigorosa supervisão médica e monitoramento de efeitos colaterais.

A Coluna A Voz do Paciente é uma iniciativa do projeto ExCanMed, dedicada a compartilhar histórias verídicas sobre o uso terapêutico da Cannabis. Sob a curadoria de Maria Carolina Cristianini, jornalista formada pela Universidade Metodista de São Paulo e laureada com o Prêmio Esso de Jornalismo em 2007, a coluna busca enriquecer o entendimento sobre as práticas cotidianas na área médica, oferecendo um olhar profundo e experiente sobre o impacto real desses tratamentos na vida dos pacientes. Contato: mccristianini@gmail.com ou @mccristianini

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